Editorial
Os editoriais
são textos de um jornal em que o conteúdo expressa a opinião da
empresa, da direção ou da equipe de redação, sem a obrigação de
ter alguma imparcialidade ou objetividade. Geralmente, grandes
jornais reservam um espaço predeterminado para os editoriais em duas
ou mais colunas logo nas primeiras páginas internas. Os boxes
(quadros) dos editoriais são normalmente demarcados com uma borda ou
tipografia
diferente para marcar claramente que aquele texto é opinativo, e não
informativo. Editoriais maiores e mais analíticos são chamados de
artigos de fundo.
Na chamada "grande
imprensa", os editoriais são apócrifos — isto é, nunca são
assinados por ninguém em particular.
A opinião de um
veículo, entretanto, não é expressada exclusivamente nos
editoriais, mas também na forma como organiza os assuntos
publicados, pela qualidade e quantidade que atribui a cada um (no
processo de Edição
jornalística). Em casos em que as próprias
matérias
do jornal são imbuídas de uma carga opinativa forte, mas não
chegam a ser separados como editoriais, diz-se que é Jornalismo
de Opinião.
Veja também o
artigo Op-Ed.
linha editorial
Linha editorial é
uma política predeterminada pela direção do veículo de
comunicação ou pela diretoria da empresa que determina "a
lógica pela qual a empresa jornalística enxerga o mundo; ela indica
seus valores, aponta seus paradigmas e influencia decisivamente na
construção de sua mensagem"1.
A linha editorial
orienta o modo como cada texto será redigido, define quais termos
podem ou não, quais devem ser usados, e qual a hierarquia que cada
tema terá na edição final (seja em páginas do meio impresso ou na
ordem de apresentação do telejornal
ou radiojornal
e na web).
Dessa forma, a linha
editorial pode ser considerada um valor-notícia.
No entanto, "a linha editorial não é um valor-notícia dos
fatos a serem abordados (ou seja, um valor-notícia de seleção),
mas sim um valor-notícia da forma de realizar a pauta (ou seja, um
valor-notícia de construção)"2.
O editorial está
normalmente em Jornais, revistas e artigos de internet.
Artigos e Artiguetes
Grande parte dos jornais impressos (e também digitais) reserva uma
página ou um espaço para a publicação de artigos opinativos
por personalidades, especialistas ou convidados que tenham um
comentário ou uma opinião relevante a expressar. Muitas vezes a
página de artigos é editada ao lado da página editorial, quando
não na mesma. Em TV e rádio, esta prática é mais rara.
Outro espaço
dedicado a textos opinativos, embora não de conteúdo editorial e
raramente de teor jornalístico, são as colunas
e Críticas.
Além da página de
editoriais principal, alguns veículos impressos optam por inserir
ainda as chamadas notas editoriais em outras páginas,
geralmente ao lado da matéria que trata do assunto opinado. Em
alguns jornais, esta prática também é apelidada de artiguete
ou nota picles.
Cartas do Leitor
Um espaço comum
para expressar a opinião do público do veículo é a seção das
cartas do leitor. O jornal seleciona, entre as cartas recebidas,
algumas que tenham opinião bem argumentada (e, claro, um bom texto)
para publicar e registrar, por amostragem, o pensamento dos leitores.
Certas vezes, existe a preocupação de contrabalançar e equilibrar
as opiniões, escolhendo sempre idéias opostas. Na maioria das
edições, porém, jornalistas selecionam cartas que sejam alinhadas
com as posições do veículo.
*Mínimo
esforço
EDITORIAL
Folha
de S. Paulo
24/4/2007
Reforma
do ensino básico exige renúncia a soluções fáceis, da crença no
poder da tecnologia à idéia de educação só como prazer
A
DISCUSSÃO sobre a falência do ensino básico, no Brasil, resvala
com facilidade para as falsas questões. Soluções dispendiosas,
como o uso de computadores na sala de aula, ganham ares de panacéias
definitivas -até serem fulminadas pelo teste implacável da empiria,
como mostrou estudo do economista Naercio Menezes Filho noticiado
nesta Folha.
Professor
da USP e do Ibmec-SP (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais),
Menezes Filho investigou as variáveis que mais explicam o bom
desempenho escolar. Tomou por base os testes do Sistema de Avaliação
da Educação Básica (Saeb) com alunos de 4ª e 8ª séries do
ensino fundamental e da 3ª série do ensino médio. Verificou que a
informática na escola não melhora nem piora os resultados de seus
alunos no Saeb.
Escolaridade,
salário e idade dos professores tampouco exercem peso significativo,
segundo o estudo -uma conclusão destinada a gerar controvérsia,
decerto. Maior influência apresentam a idade de entrada no sistema
educacional e a quantidade de horas-aula. Alunos que passaram por
creches e pré-escola e ficam mais tempo na escola, a cada dia,
apresentam desempenho significativamente superior.
Por
isso a Folha incluiu os dois quesitos no conjunto de metas nacionais,
até o ano 2022, aqui elencadas no editorial "O básico em
educação" (22/4): 80% das crianças de 0 a 3 anos com acesso a
creches (hoje são 13%) e 90% dos alunos com aulas por 6 horas
diárias (1,2%, atualmente). Não se conferiu prioridade a
computadores nas escolas, mesmo sendo objetivo desejável.
Prioridades
são prioridades, afinal. Uma das mais prementes, contudo, se mostra
refratária à expressão na forma de uma meta quantificável: pôr
fim à lei do mínimo esforço, à crença de que a educação possa
ter sucesso sem empenho e disciplina.
No
gabinete dos tecnocratas, bastaria recorrer a fórmulas mirabolantes.
Na sala de aula, à criatividade lúdica, ao espírito crítico e ao
universo cotidiano do aluno. O restante viria como que por gravidade,
cada estudante percorrendo à própria revelia as etapas necessárias
do desenvolvimento cognitivo descritas nalgum esquema abstrato.
O
fracasso está aí, à vista de todos, para provar que não pode
funcionar um ensino em que professores são reduzidos a meros
facilitadores, ainda por cima mal pagos e sobrecarregados com
jornadas extensas. Perderam a condição de autoridade encarregada de
exigir dedicação nas tarefas e civilidade no trato com os colegas,
responsabilidade encarada por muitos como ônus a evitar (dificuldade
partilhada com vários pais, de resto).
Pode-se
discutir indefinidamente se é ou não o caso de retroceder à
obrigação de decorar todos os afluentes do Amazonas. Para pôr
termo ao descalabro do ensino básico, entretanto, é preciso retomar
princípios básicos da educação, a começar pelo combate à noção
vigente de que se possam realizar conquistas sem esforço
proporcional.